José Marques

SURGE – SIMPLESMENTE FABULOSO
O álbum Surge, de Ser Castro, alter ego de Sérgio Castro, é um CD a que se junta um livro de 32 páginas, com o formato de LP. Contém 14 canções compostas ao longo de meio século no estúdio como na estrada. Meio século… parece impossível.
 
Sérgio, aliás Ser, surge acompanhado por músicos que com ele tocaram em várias das muitas formações que fundou ou onde tocou – Arte & Oficio, Stick e Trabalhadores do Comércio no nosso país, e Semen Up, Os Resentidos, Bombeiros Voluntários ou Siniestro Total no país vizinho.
Ser Castro (de seu nome real Sérgio Castro), compositor multifacetado, músico virtuoso e intérprete de voz inconfundível, nasceu no Porto em 1955. Fundou ou tocou em muitos grupos – como Rocka, Psico, Stick, Arte & Ofício, Trabalhadores do Comércio e, em Espanha, Semen Up, Bombeiros Voluntarios e Frangos. Faltarão certamente alguns, mas não quero ser exaustivo.
 
Como refere no disco, “em 1975 fundou, juntamente com António Garcez, Álvaro Azevedo e os já falecidos Sérgio Cordeiro e Juca Rocha os Arte & Oficio – a mais original e emblemática banda do panorama nacional. Em 1980, com a cumplicidade de Álvaro Azevedo e do jovem Joe Medicis, adiantaram-se ao “fenómeno” do Rock Português e iniciaram um percurso musical e literariamente atrevido, suficientemente controverso e que se mantém até aos dias de hoje – Trabalhadores do Comércio”.
 
Ouvir este álbum foi para mim um estranho mas curioso misto de sentimentos.
Primeiro, nostalgia, porque está aqui o Sérgio que venho seguindo nos tais 50 anos. Quando tocavam covers, chateava-o sempre para tocar e cantar o “Georgia on my mind”, escrita em 1930 por Hoagy Carmichael (música) e Stuart Gorrell (etra), mas popularizada por muitas grandes vozes, como Ray Charles, Django Reinhardt, Louis Armstrong, Dean Martin, Willie Nelson. Sem qualquer favor, a versão de Sérgio não lhes fica atrás.
Depois, regozijo, porque afinal, eu e a minha geração, que é também a do Sérgio, fomos bafejados por formações e intérpretes como Frank Zappa, Tom Waits, Chicken Shack, Savoy Brown, Uriah Heep, Black Sabath, Led Zeppelin, Fleetwood Mac e muiotos outros, perpassando aqui e ali neste disco as suas influências.
 
Finalmente, porque apesar do alter ego, este SURGE mostra-nos o Sérgio Castro. Por fora, nas suas interpretações nas suas seleções, na escolha do formato e do conteúdo. Mas é também o Sérgio que se mostra por dentro. Este é um trabalho autobiográfico. O Sérgio e a sua/nossa geração vira-se do avesso para, sem complexos se desnudar.
 
Bem hajas, Sérgio por este excelente SURGE. Por favor não percam.

Ser Castro

© 2019 @sercastro