Surge Ser Castro uma boa narrativa de canções
Durante os dias mais duros da era covidesca tive por companhia assídua um punhado de canções de Sérgio Castro – o Serjão para o pessoal do Porto – canções inseridas num cuidado álbum intitulado Surge Ser Castro.
Os temas, todos cantados e escritos pelo Sérgio, têm, na sua diversidade, uma linha comum: trata-se de uma permanente e transbordante afectividade plasmada nos vários rostos que a vida nos pode mostrar, incluindo histórias de amor e de desamor, ou ainda o amor sublimado que se pode sentir por uma avó que já não está entre nós.
A voz madura de Sérgio Castro é adequada para este universo intimista que ele próprio construiu. Mostra-se, também em termos interpretativos, à altura da exigência imposta pelo teor das letras escritas em inglês e de baixa concessão aos lugares comuns.
Tudo isso, o que já não é pouco, surge em Surge numa roupagem musical dominada pela guitarra e pelo piano e assente num blues estilizado de fino recorte, marcado por riffs de guitarra límpidos e inesperados na sua concepção.
O registo das gravações esteve a cargo de músicos irrepreensíveis no que toca a qualidade, de que podem ser exemplos o pianista André Sarbib e o guitarrista Fernando Nascimento.
Enquanto objecto, o álbum Surge Ser Castro é de agradável manuseio. A opção no que toca a ilustrações remete para o legado de Andy Warhol.